sábado, 29 de novembro de 2008

Espelhos dentro do espelho

- Conversa de elevador é sempre a mesma coisa, né?
- Quase sempre.
- Às vezes, as pessoas falam até sobre o próprio elevador.
- Eu sempre falo sobre o elevador.
- Falam sobre histórias de elevador. Por exemplo, de quando a porta fechou com tanta força, que quase amputou o braço de um advogado que tentou segurá-la.
- Acontece todo dia.
- Coisas do gênero.
- Vivo conversando sobre elevador dentro do elevador.
- Seria isso metalinguagem?
- Não sei. O que é isso?
- O que fazemos agora é. Duplamente.
- 8º andar, senhor!
- Até logo, Severino.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O amigo por trás das poesias

Para falar dele, uma poesia cairia melhor que uma prosa. Grande poeta, advogado brilhante, mas principalmente um companheiro. Pronto para ouvir, para dar uma risada de seu comentário bobo, mas sempre, sempre mesmo, com aquele olhar desconfiado, mostrando que você pode confiar nele, mas ele está de olho no mundo, para que ninguém possa passar a perna dele. Conheci ele como Cidão, não posso chamá-lo de Cristiano. Foi ficando mais sério e o Cristiano às vezes se sobrepõe ao Cidão. No entanto, o Cidão sempre aparece. Pode ser numa brincadeira mais infantil, numa jogada no meio do futebol(com seu tradicional pulinho), ou no meio de uma bebedeira. Fã de poesia concretista, para ele Arnaldo Antunes devia ser eleito presidente da Academia Brasileira de Letras. Conheci ele como um adolescente tímido, introvertido, louco por futebol e "muso" de uma certa garota, que o perseguiu durante anos. Eu mostrei a ele várias coisas e ele me ensinou diversas. Ajudava ele com matemática ele me ajudava nas redações. Mostrei a ele as baladas, o papo furado e como ser um pouco mais atirado com as menininhas. Ele me mostrou Chico Science e, mais do que tudo, a amizade. Até conhecer Cidão tinha conhecido a camaradagem, a parceria de vários anos, mas ao os conhecermos, pude descobrir o que era uma amizade. Para tudo: hora da tristeza, da alegria, balada, estudo, mulheres, namoros, solteirice, viagens... O cara foi se transformando. De repente, percebi que aquele adolescente tímido estava mais falante e galanteador que qualquer outro.Usando seus talentos poéticos para conquistar os corações apaixonados.Claro, isso foi até ele conhecer a Carla, futura senhora Fogaça.....Grande Cidão, mantenha a gente sempre inspirado pela sua poesia e nos mantenha sortudos por poder contar com sua amizade.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Onda Voraz

O tempo todo o tempo passa” (*)

Semanas voam no meu calendário

Essa velha ansiedade nos ultrapassa

Dias começam derrubando ontens, sem fim

Não existe o momento, importa o horário

Antigamente não era assim


Parece que foi ontem


Que a gente estava lá


O presente sempre vem


E o futuro é quase já


Vejo saudade de mais tempo


Clamando em seu olhar


Sinto vontade do ar do relento


Um grito no vácuo, acordo a sonhar


O tormento da vida é ser sem estar





(*) o primeiro verso é do mestre Arnaldo Antunes