segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Richard Dawkins, ou a esperança da razão

A FLIP de julho de 2009 trouxe ao Brasil, pela primeira vez, um dos maiores intelectuais vivos, provavelmente o maior. Um assombro que a imprensa nacional tenha dado tão pequena cobertura a esse cientista e escritor reverenciado nos meios acadêmicos e literários ao redor do mundo. Além de cientista respeitado, escritor prolífico, polemista e debatedor Richard Dawkins, o rotweiller de Darwin, é hoje o grande defensor da racionalidade e da ciência contra os ataques da religião e do misticismo. Desde seu primeiro livro, O Gene Egoísta, lançado em 1982, Richard Dawkins, vem se destacando como um cientista consagrado que escreve sobre temas importantes em uma linguagem acessível para o público leigo. Embora tenha vindo para ajudar a lançar seu próximo livro sobre a evolução, o debate se centrou no seu mais polêmico e famoso livro, além do mais brilhante: Deus, Um Delírio. Nesse seminal livro Dawkins ataca com toda sua erudição, verve e racionalidade a idéia de um deus sobrenatural, e todas as imposturas e misticismos que acompanham essa idéia. A idéia central do livro é que a noção de um deus, que além de ter criado o mundo ainda se preocupa com pequenas coisas mundanas, não é apenas ridícula e anti-cientifica, mas é nociva para a vida em sociedade e para o avanço da ciência.

Dawkins se notabilizou não apenas por atacar uma religião específica, mas a própria idéia de religião, ou seja, idéias e pretensas verdades baseadas na tradição, autoridade ou revelação. Para ele devemos refutar e questionar qualquer verdade absoluta da religião através da racionalidade e do questionamento crítico. O verdadeiro conhecimento se adquire através do debate, da razão e das evidências. Racional, materialista e genial faz da defesa da ciência e do debate racional suas armas e seu alvo. Dawkins, por demonstrar as fraquezas e as inconsistências das diversas religiões e o perigo que elas representam, sofre constantemente ataques de fundamentalistas, que querem trazer o debate para o campo da irracionalidade e da obscuridade onde podem gritar mais alto para seus fiéis. Dawkins continua incansável e vence, sempre, os debates, pois tem a seu lado a razão e a ponderação e não verdades reveladas por livros sagrados.

Em um momento em que o culto a “deuses” e a irracionalidade avançam, os atentados suicidas e os conflitos religiosos prosperam, Dawkins além de brilhante é imprescindível. Enquanto isso os maiores polemistas da imprensa tupiniquim (no maior país católico do mundo) são o “filósofo” Olavo de Carvalho e o inquisidor Reinaldo Azevedo, sempre prontos a defender, com fervor religioso, as indefensáveis (im)posturas da igreja católica. Para nos vacinarmos contra esses tipos de misticismos a leitura de Deus, Um Delírio, e seu convite à reflexão, já é um bom antídoto.

5 comentários:

Cristiano disse...

Se o Richard Dawkins estiver num avião, em forte turbulência, prestes a cair no meio do inferno, será que ele vai rezar e pedir ajuda a Deus?? rs... Falando sério, realmente é interessante pensar que Deus teria mais o que fazer, na condição de entidade suprema que criou o mundo, do que se preocupar com coisinhas mundanas. Mesmo assim, continuo tendo fé. Para mim, fé pode ser inexplicavel empiricamente, como o amor, mas tem uma baita força. Belo texto. Abraços.

Paola Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paola Rodrigues disse...

ah, otimo texto mesmo. Como sempre, tu sempre escreve muito bem..

Paola Rodrigues disse...

Esse tipo de discussao leva a muitas contradicoes quando nao se tem a razao e a ciencia como base. eu ja dei com a lingua nos dentes algumas vezes e o Ricardo esta ai pra confirmar.
Nao acho que o amor e a fe podem ser ditos como inexplicaveis empiricamante. A fe sim. Ainda mais quando trata a fe como sendo aquilo que devemos acreditar sem poder ver; como a confirmacao da palavra de Deus na Terra. Como podemos tomar por verdade uma coisa que nao conseguimos observar, desdobrar? Ja o amor foi cientificamante analisado, reacao quimica-reativa, envolvendo neurotransmissores e tudo mais.
Mas, no fim de tudo, podemos dizer que a fe tem uma baita forca e, para muitos, uma forca que move montanhas.. pessoas, ideias, guerras, mortes...

Babilônico disse...

e boa parte da humanidade seguirá um livro, outra parte seguirá uma nova parte do mesmo livro e alguns seguirão por outro livro com semelhanças. todos os livros permitirão interpretações multiplas de acordo com o leitor e seus interesses materiais ou espirituais.
e no sétimo dia acontecerão os clássicos dos campeonatos nacionais de futebol.
e assim será.