quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Dívida

Pecados a serem expurgados

São tão pesados...

Como os débitos a serem purgados

Por valores amortizados...

Juros de mora nos comem

Juras de amor nos nutrem

São as penas que vêm de outrora

Uma promessa que nos devora

Devemos ter mais medo de dever...

Ou de morrer?

As labaredas da cobrança perseguem o homem

E matam-no, se não estiver tudo bem quitado.

Coisa de católico.

Ou de coitado?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Precipitando-se

O verde dos semáforos escorre no pára-brisa

Pelo retrovisor, um pedaço de azul ainda reluz

O toldo das barracas de flores curva-se diante dos trovões

E as pessoas apressam passos, erguendo-se como urubus


As gotas de água que brotam do chão, são óleo na frigideira

Centauros motorizados trocam de pele debaixo do viaduto

O cheiro úmido dos céus inunda as vielas da cidade inteira

Meu corpo arde em febre como lava que enxuga o gelo


As árvores incham-se de gotas gordas e agitam-se, bem nutridas

Rios carregam folhas pelas ladeiras, como lágrimas desmelingüidas

As calçadas da avenida ganham cata-ventos negros, que se acotovelam

em suas idas


E de repente então o céu cessa, em sinal de ternura

Mil cores se fundem entre aquelas nuvens escuras

Debaixo das árvores ainda chove como antes


Os meninos chutam ondas nas poças encharcadas

A noite recebe novamente moças deslumbradas

Pelo frescor que se lançou no verão exultante


Cata-ventos viram bengalas

Centauros tiram suas capas

O cheiro do ar se dissipa no breu


Mas a precipitação prossegue ainda em mim.