O verde dos semáforos escorre no pára-brisa
Pelo retrovisor, um pedaço de azul ainda reluz
O toldo das barracas de flores curva-se diante dos trovões
E as pessoas apressam passos, erguendo-se como urubus
As gotas de água que brotam do chão, são óleo na frigideira
Centauros motorizados trocam de pele debaixo do viaduto
O cheiro úmido dos céus inunda as vielas da cidade inteira
Meu corpo arde em febre como lava que enxuga o gelo
As árvores incham-se de gotas gordas e agitam-se, bem nutridas
Rios carregam folhas pelas ladeiras, como lágrimas desmelingüidas
As calçadas da avenida ganham cata-ventos negros, que se acotovelam
em suas idas
E de repente então o céu cessa, em sinal de ternura
Mil cores se fundem entre aquelas nuvens escuras
Debaixo das árvores ainda chove como antes
Os meninos chutam ondas nas poças encharcadas
A noite recebe novamente moças deslumbradas
Pelo frescor que se lançou no verão exultante
Cata-ventos viram bengalas
Centauros tiram suas capas
O cheiro do ar se dissipa no breu
Mas a precipitação prossegue ainda em mim.