quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Precipitando-se

O verde dos semáforos escorre no pára-brisa

Pelo retrovisor, um pedaço de azul ainda reluz

O toldo das barracas de flores curva-se diante dos trovões

E as pessoas apressam passos, erguendo-se como urubus


As gotas de água que brotam do chão, são óleo na frigideira

Centauros motorizados trocam de pele debaixo do viaduto

O cheiro úmido dos céus inunda as vielas da cidade inteira

Meu corpo arde em febre como lava que enxuga o gelo


As árvores incham-se de gotas gordas e agitam-se, bem nutridas

Rios carregam folhas pelas ladeiras, como lágrimas desmelingüidas

As calçadas da avenida ganham cata-ventos negros, que se acotovelam

em suas idas


E de repente então o céu cessa, em sinal de ternura

Mil cores se fundem entre aquelas nuvens escuras

Debaixo das árvores ainda chove como antes


Os meninos chutam ondas nas poças encharcadas

A noite recebe novamente moças deslumbradas

Pelo frescor que se lançou no verão exultante


Cata-ventos viram bengalas

Centauros tiram suas capas

O cheiro do ar se dissipa no breu


Mas a precipitação prossegue ainda em mim.

6 comentários:

carla disse...

Gostei muito!!!

Parabéns!!

principesca disse...

Olá Cristiano! Obrigada pelo comentário no Sambando, gostei dos seus textos, especialmente este último. "Centauros motorizados trocam de pele debaixo dos viadutos", gostei desse verso. Até mais!

Athena disse...

Adorei o post! Texto claro, versos precisos...gostei muito!

Enquanto eu lia o seu texto tocava uma música na tv do cômodo ao lado, não sei dizer o nome dela (uma pena...mesmo!), mas a combinação ficou perfeita!

Beijos,
Nina

Unknown disse...

Icrível como eu consigo visualizar perfeitamente cada verso...

gostei do sinal de ternura.

bjs

Acéfala disse...

Não, cara!
Não desisti do senhora inércia! Rs... É que o capitalismo anda sugando todo o meu tempo :(
Mas atualizei agora, ok?!
Seu texto está belíssimo! Acho que precipitação sempre torna-se incômoda quando a gente põe a racionalidade pra funcionar, rs...

Márcia disse...

Adorei,cri!
Descrições de um dia de chuva na cidade de S.Paulo.Sinestesias como"cheiro úmido dos céus inunda as vielas da cidade inteira" e metáforas como"As gotas de água que brotam do chão são óleo na frigideira", nos fazem participar da cidade através de sensações deliciosas, olfativas, auditivas e outras. Eu adoro isso!!

beijão,

Mormina