O verde dos semáforos escorre no pára-brisa
Pelo retrovisor, um pedaço de azul ainda reluz
O toldo das barracas de flores curva-se diante dos trovões
E as pessoas apressam passos, erguendo-se como urubus
As gotas de água que brotam do chão, são óleo na frigideira
Centauros motorizados trocam de pele debaixo do viaduto
O cheiro úmido dos céus inunda as vielas da cidade inteira
Meu corpo arde em febre como lava que enxuga o gelo
As árvores incham-se de gotas gordas e agitam-se, bem nutridas
Rios carregam folhas pelas ladeiras, como lágrimas desmelingüidas
As calçadas da avenida ganham cata-ventos negros, que se acotovelam
em suas idas
E de repente então o céu cessa, em sinal de ternura
Mil cores se fundem entre aquelas nuvens escuras
Debaixo das árvores ainda chove como antes
Os meninos chutam ondas nas poças encharcadas
A noite recebe novamente moças deslumbradas
Pelo frescor que se lançou no verão exultante
Cata-ventos viram bengalas
Centauros tiram suas capas
O cheiro do ar se dissipa no breu
Mas a precipitação prossegue ainda em mim.
6 comentários:
Gostei muito!!!
Parabéns!!
Olá Cristiano! Obrigada pelo comentário no Sambando, gostei dos seus textos, especialmente este último. "Centauros motorizados trocam de pele debaixo dos viadutos", gostei desse verso. Até mais!
Adorei o post! Texto claro, versos precisos...gostei muito!
Enquanto eu lia o seu texto tocava uma música na tv do cômodo ao lado, não sei dizer o nome dela (uma pena...mesmo!), mas a combinação ficou perfeita!
Beijos,
Nina
Icrível como eu consigo visualizar perfeitamente cada verso...
gostei do sinal de ternura.
bjs
Não, cara!
Não desisti do senhora inércia! Rs... É que o capitalismo anda sugando todo o meu tempo :(
Mas atualizei agora, ok?!
Seu texto está belíssimo! Acho que precipitação sempre torna-se incômoda quando a gente põe a racionalidade pra funcionar, rs...
Adorei,cri!
Descrições de um dia de chuva na cidade de S.Paulo.Sinestesias como"cheiro úmido dos céus inunda as vielas da cidade inteira" e metáforas como"As gotas de água que brotam do chão são óleo na frigideira", nos fazem participar da cidade através de sensações deliciosas, olfativas, auditivas e outras. Eu adoro isso!!
beijão,
Mormina
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