sábado, 29 de novembro de 2008
Espelhos dentro do espelho
- Quase sempre.
- Às vezes, as pessoas falam até sobre o próprio elevador.
- Eu sempre falo sobre o elevador.
- Falam sobre histórias de elevador. Por exemplo, de quando a porta fechou com tanta força, que quase amputou o braço de um advogado que tentou segurá-la.
- Acontece todo dia.
- Coisas do gênero.
- Vivo conversando sobre elevador dentro do elevador.
- Seria isso metalinguagem?
- Não sei. O que é isso?
- O que fazemos agora é. Duplamente.
- 8º andar, senhor!
- Até logo, Severino.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
O amigo por trás das poesias
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Onda Voraz
“O tempo todo o tempo passa” (*)
Semanas voam no meu calendário
Essa velha ansiedade nos ultrapassa
Dias começam derrubando ontens, sem fim
Não existe o momento, importa o horário
Antigamente não era assim
Parece que foi ontem
Que a gente estava lá
O presente sempre vem
E o futuro é quase já
Vejo saudade de mais tempo
Clamando em seu olhar
Sinto vontade do ar do relento
Um grito no vácuo, acordo a sonhar
O tormento da vida é ser sem estar
(*) o primeiro verso é do mestre Arnaldo Antunes
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Música sem músicos?
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Gentileza
Pueril tentativa de tornar-se mais altivo. Mais lúcido. Mais livre. Sorveu aquela xícara de café amargo com as sobrancelhas curvadas em sinal de sacrifício. Com as pontas dos dedos úmidos, catou algumas pedrinhas de açúcar que brilhavam sobre o balcão de madeira e jogou-as ao chão, com displicência. Respirou fundo e sentiu as pálpebras assoladas por um peso não-habitual. Bocejou. Esfregou os olhos cansados e pediu a conta ao garçom. A televisão do bar comentava sobre a guerra. Os Estados Unidos talvez fossem intervir, como conciliadores do conflito. “– Para vender mais armas”. Comentou o garçom, quando lhe trazia um papel amassado sobre um pires de metal. Sem atentar para o valor ali estampado, Homero retirou umas moedas do bolso e despejou sobre o balcão. “– Está certo !” Sentenciou, enquanto se levantava. Ganhou a claridade da rua, sendo recepcionado por buzinas e motores de motocicletas, todas
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Realizemo-nos
Antes que seja inútil, antes que seja tarde. Façamos logo algo, de uma vez por todas, porque esperar pela hora certa já é deixar de fazer. Vamos publicar todos os livros engavetados na poeira da nossa intimidade. Vamos publicar as fotos de paisagem daquilo que só nós vimos. Vamos subir nos palcos dos bares da cidade e cantar nossas desconhecidas canções. Vamos descer a grande onda do dia e encarar o horizonte como leões. E se levarmos uma chuva de tomates na cara ou a indiferença do silêncio uníssono ? Continuaremos felizes, meu caro, e mais lúcidos do que nunca.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Sonho de um sonho de Cranaval
"Sonho de um carnaval"
No carnaval,
esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança
sábado, 14 de junho de 2008
Mar profundo
Costumamos tentar enxergar tudo de longe, de cima, distante. Respiramos o máximo de idéias externas, que nos é permitido. Asfixiamo-nos. E para nos compreendermos tentamos nos ver de perto, fechamos os olhos e mergulhamos em nossas imagens internas. Afogamo-nos. É disso, que todos precisam, muito disto e pouco daquilo e, tempos depois, menos daquilo e muito mais daquele outro. Alternando água e terra. Altura e mergulho.
Mas se a alma quer folia, a cabeça pede alforria. E o corpo fica refém, entre a cruz e a caldeirinha. Como quem quer dançar tango, mas não tem um par. Ou como quem quer andar de bicicleta, mas tem medo de correr sem rodinhas. Como quem quer curtir o mar, mas não vence as ondas bravas da ressaca. Medo que nos castra, receio que nos mina. A coragem que nos cega seria a força que ilumina? Besta rima...
Os sentimentos se entrelaçam em novelos internos, mais viscosos que entranhas. Estranhas? E as idéias fervem na cabeça, mais coloridas do que os corais. Cérebros do fundo do mar. E na superfície flutuam docemente algas fluorescentes. Nos rostos tensos, singram plácidos sorrisos. Hora de levantar, do fundo do mar.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Letra de Música: "Absorva"
Composição: Felipe S. e Samuel
(Letra de música da banda pernambucana Mombojó)
Vai, me absorve, que hoje eu quero ser só seu
Me dissolve e mexe com a colher
O seu prato predileto é quando eu digo não.
Não quero mais ser só....
Não quero mais ser seu só...
Não quero mais....
Me absorva mais
(Me absolva,
Me abençoa
Me absorva...)
Seu sorriso é um paraíso
E no ar, vou em transe ao sol
Para me livrar de tanto mar
Resolvi espairecer, apareci sem avisar
Para não ser sempre
A mesma rotina de ilusões
Mesma
Rotina de ilusões
Me absorve, que hoje eu quero ser só seu
Não quero mais ser
seu só.
Me absorva mais, me absorva mais.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
HAIKAI
FIM DA TARDE SEM
O MAR OLHA
VAGA LUZ É SOL
SOME LÁ APARECE CÁ
LUME QUE VEM DE SI
terça-feira, 1 de abril de 2008
Tortas favelas parindo bailarinas
Flores amarelas nascendo do concreto
Criança de rua prefere arte à cocaína
Fetos saudáveis dentro de mães enfermas
Gestos confiáveis submersos em noite erma
Lixeiro humilde devolve pasta com um milhão
A água que chega para nutrir todo sertão
A moça grávida de vida
Agradece a tudo com comoção
É a senhora da ávida vida
Que nos sorri em contemplação.
segunda-feira, 10 de março de 2008
VEJA e o jornalismo de papel higiênico
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Acorde
Faz vibrar dentro do peito
Combinam-se e soam como um
Alinham-se e escrevem uma canção
Acorde
Acorde
Desentendimentos nos desvirtuam da evolução
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Vidigal
Ocultando beleza e fúria. Esbanjando loucura e frieza. Caminhava por entre sombras, esgueirando-se por esquinas e becos, com a fantasia volúvel de encontrar alguém conhecido, naquele fim de mundo obscuro. Nenhuma palavra de verdade lhe dirigiam. Nada. Apenas palavras burocráticas, quase inaudíveis, que ele deduzia por leitura labial. Entrou, então, numa avenida grande, iluminada, cheia de letreiros expostos em prédios faraônicos que lhe ofuscavam qualquer coragem de expor-se. Olhou para baixo e seguiu rápido como boi açoitado. Com os passos nervosos e as mãos que não se encaixavam em si, ele sentia suores lhe percorrendo o corpo gelado.
Olhares de desdém, gestos de desconfiança, passos receosos, isto era tudo que ele recebia naquela infinita Avenida. Além de luzes fortes no rosto enrugado e perfumes azedos das madames. Chegaram a gritar algo ao longe, como, “será que ele não se enxerga?”... Mas Vidigal filtrava bem as palavras em seus ouvidos.
Próximo à cafeteria, numa esquina qualquer, um som metálico invadiu-lhe a cabeça. Mais parecia uma miragem de oásis a lhe inebriar a visão. Um homem estranho, sentado sobre caixas velhas entoava notas lustrosas num saxofone velho e fosco. Ninguém o via. Quase ninguém o ouvia. Apenas o velho Vidigal, o observava com introspecção. Cada nota mais estendida que o músico alçava no ar, era um prédio que desabava dentro de Vidigal, com fervor e fúria. Sentia tremer tudo e todos.
Aos poucos passou a bater com os pés na calçada, como que marcando o tempo correto dos compassos e sentiu vontade de sorrir. Mas aquilo pareceu-lhe ridículo, àquela altura dos acontecimentos.
De repente. uma brusca freiada de carro, retirou-lhe injustamente daquela condição etérea. Pneus cantaram de forma estridente. Não se seguiu batida ou acidente, mas somente um sobressalto que fez Vidigal pensar que o som lhe pudesse ser abafado para sempre. As notas permaneceram intactas, leves e cada vez mais altas. No volume e na audácia. Vidigal suspirou aliviado. A cidade aos poucos derretia e tudo era somente música, ritmo e poesia.
Quando deu por si, Vidigal já dançava, por entre os pedestres da calçada, abraçando postes e flutuando docemente, como um dançarino. Embriagado de alegria, inconsciente, cheio de vida.
Foi então que o músico cessou a magia. Desgrudou o saxofone dos lábios, ergueu os olhos para o chapéu, avistando míseras moedinhas ali lançadas pelos pedestres e encarou Vidigal por instantes. Vidigal que sapateava, congelou-se sorridente e ofegante e mirou o músico no fundo dos olhos cansados. O músico sorriu-lhe de volta e disparou um jazz, que navegou como míssil contra tudo a sua volta, fazendo Vidigal agitar-se como criança.
Enquanto tocava, o homem do saxofone teve a certeza de que mesmo sem audição e muito doente, o velho Vidigal ainda sabia reconhecê-lo, como um grande amigo de outros tempos.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Razão, fé e ciência
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Redemoinho
Inútil relutar
contra a maré atrativa
sugada em retrospectiva
viva de si
Sem compromisso
deixou-se levar
abraçar e embarcar
Circundando em órbita
ao redor do leito
observava lívida
com enorme respeito
seu próprio corpo em pleno eixo...
Nada restava de sua esperança ressequida
sem as rédeas da razão
agora em águas distantes e tépidas
sem fazer muita questão
de ir ou vir
Nadava contra a corrente de si...
Buscando simplesmente
nem passado, nem futuro,
mas um outro hoje
um pouco menos escuro.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Despertar
Promessas com ares urgentes
Hábitos travestidos de derradeiros
A palavra entra em choque certeiro
Com o gesto que ainda paira sobre a gente
- Não se pode começar hoje, em plena festa
A renúncia à alegria, que nos propõe tal promessa!
Amanhã quem sabe, quando o ano nascer de fato
Hoje tudo ainda é só gestação...