quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Lua cheia

Vem, meu amor,

Sente aqui nessa cratera

E vem ver a Terra se pôr

aqui da Lua, onde tudo te espera

o tempo flutua e a vida tem cor...

Aqui ainda é dia,

todo mundo nos vê

Quando esta lua brilha

eu me vejo em você

Sobrevoe as estrelas

Esse deserto é um cais

Você pode tê-las

Só não olhe para trás

Vem, meu amor,

Vem ver a Terra nos transpor...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Dívida

Pecados a serem expurgados

São tão pesados...

Como os débitos a serem purgados

Por valores amortizados...

Juros de mora nos comem

Juras de amor nos nutrem

São as penas que vêm de outrora

Uma promessa que nos devora

Devemos ter mais medo de dever...

Ou de morrer?

As labaredas da cobrança perseguem o homem

E matam-no, se não estiver tudo bem quitado.

Coisa de católico.

Ou de coitado?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Precipitando-se

O verde dos semáforos escorre no pára-brisa

Pelo retrovisor, um pedaço de azul ainda reluz

O toldo das barracas de flores curva-se diante dos trovões

E as pessoas apressam passos, erguendo-se como urubus


As gotas de água que brotam do chão, são óleo na frigideira

Centauros motorizados trocam de pele debaixo do viaduto

O cheiro úmido dos céus inunda as vielas da cidade inteira

Meu corpo arde em febre como lava que enxuga o gelo


As árvores incham-se de gotas gordas e agitam-se, bem nutridas

Rios carregam folhas pelas ladeiras, como lágrimas desmelingüidas

As calçadas da avenida ganham cata-ventos negros, que se acotovelam

em suas idas


E de repente então o céu cessa, em sinal de ternura

Mil cores se fundem entre aquelas nuvens escuras

Debaixo das árvores ainda chove como antes


Os meninos chutam ondas nas poças encharcadas

A noite recebe novamente moças deslumbradas

Pelo frescor que se lançou no verão exultante


Cata-ventos viram bengalas

Centauros tiram suas capas

O cheiro do ar se dissipa no breu


Mas a precipitação prossegue ainda em mim.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Quase-monólogo de botequim

A - Tenho 53 anos de vida. Já presenciei muita coisa neste país. Mas continua sempre tudo muito igual, a estrutura não muda. A mentalidade é sempre tacanha. Mudamos de presidente, mas a balela é sempre a mesma.

B – É verdade. A começar pelas conversas de boteco e de elevador.... (fala meio de lado)

A - Em 68, quando você nem era nascido, eu era adolescente e minha irmã era do movimento estudantil, esquerdista mesmo. Você acredita que, uma vez, quando ela estava grávida de 8 meses, participou de uma passeata na praça da República e me levou junto!

B – Que loucura!

A -Na verdade, foi o louco do namorado dela, hoje marido, que nos arrastou pra lá. Ele levou bolinhas de gude, para jogar no chão e derrubar os cavalos da polícia que vinham atrás de nós. Joguei várias bolinhas naquele dia..... Foi naquele dia que aprendi a odiar a polícia!

B - São mesmo uns animais esse policiais.... Abusam dos inocentes!! (esbraveja)

A – Pois é. E o mais irônico é que hoje eu sou polícia!

B – (silêncio constrangedor)

A - Mas eu sou escrivão, nunca fiz diligência na rua, não! Quer dizer, FUI escrivão, porque hoje em dia estou parado. Fui o melhor escrivão do Guarujá, meu amigo, datilografava 65 Cartas Precatórias por semana, tu tem idéia de quanto é isso? (Faz com a mão, para dar idéia de uma pilha do chão até sua cabeça) Pauleira mesmo, brother!

B – Então, quer dizer que você foi um funcionário exemplar na polícia ?

A - Eu era tão pauleira, que até contraí L.E.R. (lesão por esforço repetitivo) nas duas mãos. (diz com olhar grave, mostrando os dedos tortos das mãos). Depois disso, parei total.....

B - E por isso o senhor se afastou. E agora o que senhor pensa em fazer?

A – Em primeiro lugar, não me chame de senhor. Senhor pressupõe, por outro lado, vassalo, escravidão. Me trate por você!

B – Você é quem sabe....

A- Então. Hoje em dia faço porra nenhuma, irmão. Passeio só. E gastando o seu dinheiro de contribuinte otário (grita com o dedo em riste, apontando para o outro). E o seu também, (aponta para o garçom que ria debochadamente). E o de todo mundo aqui!!! (urra para o vazio, com olhar nervoso e sarcástico).

B – Quer dizer você se aposentou ganhando bem? Mamando nas tetas do Estado.....

A- Não, não.... Não me aposentei ainda. O pior é que os caras disseram que eu era imprescindível e me deram uma outra função, como auxiliar do assistente do aspone.... Sabe o que é Aspone? As iniciais de Assessor de Porra Nenhuma! Mas, que no fim das contas, era a função do office-boy: tirar xerox e buscar documentos. Fiquei puto, né? O quê que tu acha? Aí, não fui mais trabalhar e os caras continuam me pagando como se eu trabalhasse. Sou funcionário fantasma agora. (fala com ar blasé)

B - E você não tem vontade de fazer mais nada da vida? De voltar a produzir?

A - No começo, até tinha, meu. Vontade de conversar.

B – Sei...... É importante mesmo.

A - Como você pode perceber, meu rapaz, sou bom de papo, dou boa tarde à minhoca e boa noite ao criado mudo e por assim vai. Falo pelos cotovelos e com todo mundo. Quer dizer, falava, né? Depois do que me aconteceu mês passado, quase virei um sociopata maluco.

B - Com você? Não é possível ... O que te aconteceu?

A- Outro dia, peguei o ônibus para ir até a praia do Tombo. Tava descendo do busão, quando vi uma moça extremamente grávida, grávida para caramba, você não imagina o quanto. Parecia que ia explodir, sabe? Devia estar com uns 8 ou 9 meses. Aquela melancia na barriga.... Igual minha irmã, no dia dos policiais, sabe?

B – Claro, imagino...

A - Então, olhei para ela e com toda a cordialidade do mundo, falei “Bom parto, senhora!”. Sabe o que ela fez? Me olhou atravessado, com cara de ofendida e ainda disse “Senhora é a mãe!” Vê se pode rapá, que estupidez...

B - Acho que ela quis dizer que só vai virar senhora depois que for mãe.... Ou sei lá. Talvez não seja casada. Coisa de mulher... Idade incomoda, sabe?

A- Será que foi isso? Não, não é possível... Deve ter sido a palavra “parto”. Que lembra despedida, morte... Talvez ela tenha ficado constrangida.

B Ainda acho que ela não tenha gostado da palavra “Senhora”.

A – Quer saber? Deve ser o medo de se relacionar, medo de interagir, cara. As pessoas, hoje em dia não querem trocar idéias, só querem impor as suas. Ou não querem desenvolver opiniões, só querem comprá-las prontas nos jornais e na TV. E existem aqueles que parecem querer convencer aos outros o tempo todo, falam demais, como políticos, sabe? Isso também me incomoda. Você não imagina o quanto.

B – Posso calcular....

A - É por isso que estou vendendo tudo e vou me mudar para o meio-do-mato. Vou virar eremita. Não preciso conversar com mais ninguém, nem pagar IPTU, nem conta de gás, nem assistir TV, nem esperar abrir o semáforo, nem nada!! Só vou falar com os bichos, só vou escutar o que eles me dizem. Vou me entender tanto com ele, que vou virar bicho também.

B - Bicho somos nós que vivemos em São Paulo, bicho..... Quer dizer, amigo. Naquela cidade que é uma terra de ninguém. Um arcabouço de loucos, como diz um amigo meu, poeta.

A - O homem é um bicho, por natureza! (diz já com certa frouxeza na língua) - E se torna mais irracional por acreditar que não o é. Que é superior! Por ter a razão e o livre arbítrio.... Grandes merda.... Eu vou-me embora pro meio do mato! (Anuncia, com ar definitivo) - Quanto eu te devo? (pergunta ao garçom).

B- Não, não, não! Essa é por minha conta! Eu faço questão, pois foi um grande prazer te ouvir, ou melhor, te conhecer! (Joga umas moedas no balcão em pagamento pela bebida do outro)

A – Muita gentileza. Mas não vou aceitar. Odeio me sentir devedor. (joga outras moedas no balcão e se levanta). Vai saber? Hoje em dia, é todo mundo louco, é capaz de você querer me cobrar depois, me protestar, me executar, sei lá eu. Vejam esses caras brigando por um bilhete de loteria premiado ! Tudo começa com gentileza e termina com litígio, tô fora. A gente se vê! Se você for para o meio do mato também, é claro. (vai andando, num passo torto)

B – Boa sorte! (observa a saída do homem e diz, como que pensando alto) - Espero que nesse meio do mato, ele não arrume encrenca com nenhum bicho. Afinal, lá impera aquela tal seleção natural.....

sábado, 6 de outubro de 2007

Remoendo o lixo

Examinando nossas excrescências, nossos dejetos, revelam-se nossas pequenas essências, nossos imensos projetos. Muitos comem esses restos. Alguns buscam neles matéria-prima para fazer coisas novas. O lixo são os restos do que não queremos mais. Isso é lixo e lugar disso é no lixo. Quando morremos, nossos restos também são inutilizados no fundo da terra, mas há quem não desperdice todas as partes e as recicle, dando esperança de vida a outras vidas. Para onde vai todo o lixo do mundo? Lixo tóxico, lixo industrial, lixo hospitalar, lixo de escritório, lixo de restaurante que vira prato principal dos que moram no lixo. Continua no mundo ou há um válvula de escape? A boca do lixo. O lixão, aliás, é o lixo dos lixos. Muita gente ganha a vida recolhendo o lixo. Um dia sem ser recolhido e o lixo engole as ruas e os bueiros. Engole seus donos. Gatos têm fetiches com lixos suculentos. Cachorros também gostam de virar latas, como que por esporte. Há rios que, de tanto esgoto, tornam-se grotescas geléias de lixo. Lixo no mar é como fumaça no céu. O mundo de alguns insetos é o nosso lixo. E vice-versa. O lixo orgânico aduba e fertiliza o mundo, mas antes disso acontecer, os urubus vigiam avidamente nossa putrefação.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Tudo começa em 1916. Donga lança "Pelo telefone"("Pelo telefone o chefe da polícia manda me avisar..."). A partir de então "Quem não gosta de samba bom sujeito não é ou é ruim da cabeça ou doente do pé". Circunscrito ao Rio de Janeiro até os anos 1930, começa a se espalhar pelo Brasil aquele que seria o ritmo que mais representa a brasilianidade. Uma mistura entre os tambores africanos e melodias bem trabalhadas é logo adotado pelos boêmios e malandros do Rio. Nomes como Noel Rosa, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Donga, Cyro Monteiro, Ismael Silva, Heitor dos Prazeres e tantos outros valorizavam a malandragem e cantavam a vida noturna do Rio. Noel Rosa gostava de dizer que sambista não era malandro e sim "Rapaz folgado" em suas disputas musicais com Wilson Batista. O sambista mais talentoso dos primórdios do samba deixou mais de 200 músicas compostas. Ao morrer de tuberculose com apenas 27 anos, Noel tinha deixado clássicos da música brasileira como Feitiço da Vila, Com que Roupa, Feitio de Oração e tantas outras. Ao cantar "que quem nasce lá na Vila nem sequer vacila ao abraçar o samba" Noel exaltava as belezas de sua Vila Isabel, alvo de disputas com seu eterno rival Wilson Batista. Outro nome que se destaca nessa época é o talentoso Geraldo Pereeira, que entre outra pérolas nos brindou com o clássico "Falsa Baiana" que nos informava "que a falasa baiana quando entra no samba ninguém se incomoda , ninguém abre a roda ninguém grita oba salva a Bahia senhor". Nesse momento a Bahia começa a pertencer ao imaginário do samba. Um nome que será de fudamental importância para isso será o do genial Dorival Caymmi. Criador dos clássicos "Samba da minha terra", "Marina","Dora" e "Saudades da bahia" veio viver no Rio e se tornou um dos ícones do samba com seu jeito simples e sua voz potente. A popularização do samba como ritmo "nacional" não se deu por acaso. Getúlio com a instituição do Estado Novo queria criar uma identidade nacional e o samba fez o papel de música nacional. Além disso os sambistas que antes cantavam a malandragem e a vadiagem passaram a ser "compelidos a cantar o trabalho. Wilson Batista, notório malandro passou a cantar "Isaura hj eu não posso ficar se eu cair nos seus braços não há despertador que me faça acordar.. o trabalho é um dever todos devem respeitar...). Que mudança. O sambas que exaltavam as belezas do país também começaram a se tornar mais importantes e foram colocados na condição de hinos. O genial Ary Barroso é campeão desse estilo de samba. "Brasil, meu Brasil brasileiro meu mulato inzoneiro vou cantarte nos meus versos...". O samba, porém nunca foi purista. Flertava com diferentes ritmos. Como dizer que o magistral Pixinguinha, o mestre do choro, também não é um sambista. E Garoto o genial violonista? Com a popularização do samba grande parte dos músicos brasileiros passou a ter no samba algum tipo de inspiração ou influência. Em fins de 1950 surge a bossa-nova- que embora alguns puristas achem que não - é uma samba com harmonias mais elaboradas que flerta com o jazz. João Gilberto dizia que não tocava bossa-nova e sim samba. Tom Jobim criou os sambas mais bonitos da história da música brasileira. Carlos lyra outra lenda da Bossa Nova e parceiro em clássicos como "Coisa mais Linda","Você e eu","Minha Namorada", também era um exímio sambista. Após a bossa nova surgiram diversios artistas que influenciados por ela iriam fazer um samba mais melodioso. Dentre eles o mais conhecido cancioneiro brasileiro contempôraneo. Não podemos citar clássicos de Chico Buarque. Quase todas suas músicas são clássicos . Só como exemplo o que dizer de uma música sobre separação como "Trocando em miúdos"? Além de Chico outros nomes contemporâneos se mostraram clássicos. João Bosco (que alguns dizem fazer MPB), um excepcional instrumentista e compositos que junto com Aldir Blanc crious diversos clássicos do samba. O que falar de Cartola e Nelson Cavaquinho dois gigantes do samba. Eles não foram influencidos pela bossa-nova, mas foram resgatados por aqueles que a seguiram. Hoje podemos dividir o samba em duas vertentes principais. (Axé, pagode e outros tantos mais serão ignorados). Uma vertente mais melódica que segue essa linha de Cartola , Chico, Ary barroso. E outra linha mais percurssiva como Candeia, João Nogueira, Beth Carvalho. Ninguém passeia tão bem pelas duas como o príncipe do samba: Paulinho da Viola. Capaz de compor um partdio alto alto como "Pagode do Vavá" um samba exaltação como "Foi um Rio que passou na minha vida" faz uma samba choro como "Mente ao meu coração" que faz até os mais duros lembrarem de suas desilusões. Esperamos que surjam outros compositores dessa estirpe. Mantendo a tradição misturem ritmo e melodia de maneira tão singular. Só ão deixe de sambar dauela maneira. "tá legal, tá legal eu aceito o argumento, mas não altere o samba tanto assim, olha que a rapaziada tá sentindo a falta de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim."

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Alfa

Mente em alfa

Corpo em off

Pousa na pele

Radioso arrepio

Até que o tempo nos vele

Repousa o espírito

Dentro do peito

Mergulho sem eixo

Busco o cosmos

Atrás destes olhos

Outro mundo visível

Levitando entre o inevitável

E o imprevisível

quinta-feira, 12 de julho de 2007

SEIVA BRUTA

ESTENDE-SE À SUA SOMBRA

UM MENINO PREGUIÇOSO

QUE VÊ FOLHAS CAÍREM COMO LÁGRIMAS

NO CHÃO

EMPREENDE-SE FORTE À POPA

O VENTO CAPRICHOSO

QUE NORTEIA A COPA

FEITO VELA EM RISTE

A CAMINHO DO VERÃO

DO CORAÇÃO GOTEJA SUA SEIVA

E SUA CÂNDIDA ALMA, NADA EIVA

DELICIANDO-SE COM FRUTAS DE MIL SABORES

ENCOSTA A CABEÇA NO TRAVESSEIRO DE SUAS RAÍZES,

SEM TEMORES

E COM AS LUZES DO CÉU QUE LHE INFILTRA A ÍRIS

VÊ-SE COMO ADÃO, NU DE PUDORES

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Pincéis mágicos

Poetas ficam a pensar,

lá com seus digitais botões

absurdas divagações...

Tsunamis de paz e harmonia

Superaquecimento de corações em chamas

Inundações de olhares apaixonados

momentos de doce epifania...

Eufemismos tão maduros e pueris

Traçados por mágicas pinceladas

Na tela que retratam dentro de si

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Datas especiais, Ritos e Celebrações

Há apenas algumas semanas passamos pelo Dia das Mães, próximo mês teremos o Dia dos Namorados, em agosto Dia dos Pais, depois Dia das Crianças, Natal, e claro os sempre festivos aniversários. Se você está marcando algo para esses dias não se esqueça que seus entes queridos ficarão chateados se você não comparecer às suas respectivas celebrações. Ah! Também não se esqueçam de levar um presentinho, que ninguém é de ferro. Celebrações e ritos fazem parte da história da humanidade. Os antigos já celebravam a lua cheia, o dia da colheita, o nascimento de alguma criança. A festa reunia toda a tribo e se festejava por dias e mais dias com muita comida e dança. O tempo passou e as datas comemorativas começaram a serem menos ligadas a natureza. O Natal, onde todos comemoram o nascimento de Cristo, é uma data que passou a ser celebrada desta maneira, tal qual conhecemos hoje, somente a partir do início do século XIX. A ascenção da burguesia na Europa Ocidental fez com que as famílias se reunissem em torno de uma mesa e se deliciassem com diversas iguarias. Com o tempo é claro a troca de presentes foi aparecendo, o Santa Klaus, o nosso Papai Noel, foi se tornando mais um mercador que um animador de festas. Epa! To falando mal do natal? Que pessoa sem coração. O Natal é o momento de se reunir com a família, trocar presentes, sermos bonzinhos, para podermos sermos um pouco diabinhos no ano-novo, dali a 6 dias. E se eu não sou cristão devo celebrar o Natal também? Claro, o Natal é a época perfeita para se reunir a família. Nos purificarmos um pouco. Darmos um abraço naquele familiar que não gostamos e desejarmos feliz natal e um próspero ano-novo. Mesmo que no resto do ano nunca mais falemos com estas pessoas. O Dia das Mães também. Só um desalmado passa o Dia das Mães longe da sua mãe. Mesmo que você tenha outro programa para esse dia, desmarque. Mesmo que você não faça outras coisas com sua mãe. Mesmo que ela só seja importante naquele dia , celebre, afinal, é o Dia das Mães. Uma pessoa que tenha uma relação harmoniosa com a respectiva mãe, que seja um filho presente, que seja companheiro, que esteja sempre ao lado dela, se não puder comparecer naquele dia e não trouxer um presentinho, é, sem sombra de dúvida, um filho desnaturado. Vivemos em um momento em que parecer vale mais que ser. A imagem é o mais importante. A imagem, a embalagem, o que aparece na televisão. Você ama sua namorada? Dê a ela um VIVO de presente. Você ama seu pai? compre um freezer nas CASAS BAHIA pra ele. Você ama seus filhos? no Dia das Crianças dê um Playstation pra ele. Se não o fizer, é uma pessoa desalmada. Que tal se em vez de dias criados pela associação comercial ou pela mídia começamos a celebrar os dias que são importantes para a gente. Naquele dia que você olhar sua mãe e resolver dar um passeio com ela, dar um abraço e ficar fazendo cafuné nela. Por que em vez de esperar pelo Dia dos Namorados não pegue sua namorada/seu namorado e vá fazer algo que nunca fizeram antes. Em qualquer dia. Hoje, daqui uma semana, dia 28 de setembro. Faça ela gozar várias vezes, depois olhe bem no fundo dos olhos dela e diga "Eu te amo". Se estiver passando por uma livraria e lembrar de um livro que ela gosta, compre e dê com todo carinho. No dia dos Namorados se tiver um jogo de futebol com os amigos, vá sem culpa. Esses dias foram criados pelos comerciantes. Somente pra aumentar as vendas. São dias especiais apenas porque aumentam as vendas pro comércio. Não se pode comercializar as relações humanas. se seus pais ou seus amigos, sua namorada ou seus filhos são importantes não espere o aniversário, dê um abraço e diga quanto eles são importantes hoje. No dia de alguma data especial vá fazer outra coisa. Não seja guiado pelo calendário criado pelas lojas comerciais. As relações entre duas pessoas têm que ser guiadas pelo sentimentos mútuos dessas duas pessoas e nada mais.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Poréns

Na vida, estamos sempre a driblar poréns

nosso pretérito é presente quase perfeito,

temos no coração algumas boas nuvens

e o azul do céu a vibrar no peito.

Gotas de chuva nos irrigam a face

parte da história, deixamos que o acaso trace,

buscando vida nas terras mais áridas

iluminamos lembranças, imagens tão válidas.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Eclipse

Um alguém sem ninguém

preso a amarras e correntes

respira como claustrofóbico

e enxerga somente o que lhe convém.

Nos milhares de ônibus lotados

Nas filas intermináveis dos bancos

Nos elevadores suspensos nas alturas

Nas pistas de dança, onde sufoca suas agruras,

invade-lhe incontinenti

um silêncio arrasador.

Pela manhã,

move-se como foguete

a amarga ambição é o seu doce ópio

e o medo de errar é sua infértil semente.

Sonha em ter alguém

E dizer a ela belas cafonices:

‘meu mel é também seu

no céu do seu peito estou eu’

porém veda seus sentimentos agudos,

por medo de ofuscar o império da razão.

E de tanto sentir que não sente o mundo

teme que o silêncio que aturde seu coração

anoiteça a graça das coisas num segundo

Um prosaico eclipse de vida.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Os Justiceiros de Hollywood

Logo no início do filme, o bem sucedido policial, que se encontra feliz, junto de sua bela família, composta por avós, tias, sobrinhos, linda mulher e o expressivo filho pequeno. Todos em torno de mesas de frutas, na ampla varanda de uma maravilhosa casa de praia. Algumas crianças brincam candidamente, com os pés descalços na areia alva. Os adultos bebem e conversam amenidades.

Quando menos se espera, homens de preto, carregando metralhadoras, granadas e pistolas de longo alcance, chegam numa caminhonete preta. Descem com a fome ávida e fria dos predadores. Sem anunciar a que vieram, adentram à casa e lançam tiros certeiros em um a um dos mais de trinta presentes, começando por uma distinta senhora septagenária, possivelmente mãe do “mocinho” e terminando, com o mórbido atropelamento da mulher e do filho do protagonista. Este, que resiste até o fim, é pego, espancado, metralhado e incendiado junto a um posto de gasolina, que explode, num show pirotécnico.

Todos mortos e destroçados. Não resta um.

Após assistir a essas cenas de pura carnificina, sangue e extermínio em massa até o mais inerme dos monges tibetanos sentiria, arrisco dizer, considerável revolta e até ódio dos “bandidos”.

Porém, como que feito de aço, o intrépido protagonista a tudo sobrevive e surge sadio e altivo de volta à cidade para vingar-se dos criminosos, ou, segundo ressalva do próprio personagem, para “impor uma punição, pois vingança é coisa contaminada por sentimentalismo...”.

Dito e feito, o protagonista derruba, um a um seus algozes, bem como parentes e filhos destes, com todos os requintes de crueldade que “tem direito”, com o apoio e a torcida de 90% dos telespectadores, que, imbuídos do ódio advindo da desgraça sofrida pelo “mocinho”, legitimam a matança, como se dissessem: “Isso mesmo, mate esses bandidos nojentos, eles merecem tudo de pior. Eu faria o mesmo !!”

Mas adiante, o protagonista, incutindo, ainda, mais a idéia de que pretende fazer justiça e não vingar-se, uma vez que a simples vingança não “apagaria as memórias tristes” que carrega, descobre-se um “Justiceiro”. Torna-se um super-herói obscuro, que por saber-se quase invencível enfrenta a todos, com o intuito de evitar o mal. Mas, como evitar o mal? Socorrendo as vítimas? Perguntariam os mais puritanos. Não, matando os “bandidos”, pois as vítimas já morreram. Ou, enfim, fazendo novas vítimas.

A certa altura, uma das personagens, tenta alertar o protagonista de que, se ele continuar nessa vida de matanças, pode acabar se tornando “um deles”. Mas, evidente, que àquela altura, já não há mais lado do bem ou do mal, ou seja, o “mocinho” já virou “bandido”, viciado ao ciclo de maldades a que adentrou vertiginosamente.

Esse ciclo de mortes e vinganças, que desnecessário lembrar fustiga a guerra no oriente médio a séculos, instiga a rivalidade entre coronéis nordestinos na briga entre famílias pela demarcação de terras, fomenta as cínicas intervenções dos EUA na “guerra contra o terror”, enfim, dita o ritmo dos desastres desde sempre. São atos de violência repetidos à exaustão, até perderem o sentido totalmente, a não ser, o de promover uma matança pior do que a que o inimigo lhe fez meses atrás.

E com esta guerra declarada do “mocinho” contra os bandidos, promovendo mortes das mais horríveis, sem qualquer finalidade a não ser “derrubar” todos que o fizeram sofrer, nosso protagonista do filme pensa estar próximo da Justiça. Habilidoso também com as palavras, nosso tétrico herói sabe que o motivo é o que menos interessa nessa matança, por isso, tenta mascarar sua vingança, como se estivesse a “fazer justiça”. E então muitos outros sofrerão a punição de sua Justiça, todos que o fizeram sofrer.

Talvez imbuído de idéias macabras como esta, um estudante sul-coreano residente em Virgínia, nos EUA, sufocado pelo preconceito dos colegas de faculdade, ofuscado pela beleza dos louros de olhos claros americanos, sentindo-se desprezado pela falta de popularidade, com as mulheres principalmente, percebendo-se excluído daquela sociedade, que ele julgava hipócrita e insensível; decidiu dar a essas pessoas a punição que “mereciam” por fazerem-no sofrer. “Não!”, diria ele, “também não era vingança, pois isso é coisa contaminada de sentimentalismo, mas apenas Justiça !”.

terça-feira, 17 de abril de 2007

O Cheiro do ralo

Assistam "O Cheiro do Ralo". No período pós-Central do Brasil, nosso cinema nacional parecia se focar em apenas dois temas. Ou o fime apresentava uma estética nordestina/retirante/vida severina em fimes como "Eu tu Eles", "O Auto da Compadecida", que foram seguidos por inúmeros filmes como "Casa de Areia" e outros mais, ou se focava na violência urbana. Antes e depois do estrondoso sucesso de "Cidade de Deus" tiveram demasiados filmes que retratavam ou glorificavam a violência urbana, o cotidiano violento e o submundo. A criminalidade urbana foi mostrada de todos os ângulos possíveis e imagináveis: de dentro e fora da cadeia, através do bandido e através do mocinho. Os filmes nacionais passaram a repetir a mesma fórmula que tinha dado certo em alguns filmes. Além é claro, dos horripilantes filmes no formato "novela em 2 horas" com atores globais e estórias romântico-cômicas. Os filmes brasileiros se tornaram enfadonhos. Começaram a perder de longe para o cinema argentino. Os filmes argentinos tinham temáticas mais universais e exploravam diferente possibilidades. Além de serem criativos, eram também muito bem feitos. "Nove rainhas", "Plata Quemada", "Clube da Lua" entre outros fizeram o cinema argentino se tornar mais interessante que o brasileiro. Porém tudo parece começar a mudar com "O Cheiro do Ralo". Uma produção simples, barata, porém extremamente bem-feita. Elenco e atuações primorosas. Um roteiro e uma direção extremamente bem feitos. Toques de comicidade, sarcasmo, crítica social e um realismo muito bem dosados. Passa da piada mais singela para uma reflexão sobre a alma humana sem descambar para o rídiculo. A capacidade de fazer piada com a escrotidão humana. Tomadas longas e piadas inteligentes e curtas. Mas principalmente uma temática universal com toques de brasilidade. Ou seja: think global, act locally. Finalmente após um tempo um filme brasileiro que merece ser visto Não percam. Aliás, "Cartola" também merece ser visto. Não tanto pela qualidade do documentário. O filme não é um primor. Mas vale o ingresso pela vida desse genial compositor. Talento como poucos dentro da música brasileira. Cartola cantando "O Mundo é um Moinho" para seu pai já vale o ingresso.

Doze Deuses

Nem o desígnio de doze deuses desastrados

terá o poder de desarmar

o desejo do nosso desnudo amar

Nem o desastre mais desordenado

Terá sucesso em nos desarticular

Ou, do nosso devaneio, nos desembriagar

Ninguém, nem o mais desumano dos diabos...

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Vis-a-vis

Vontade é como o vento que
desnuda as mentes e após
anuvia os pensamentos
lhes sufoca a voz

É assim.

Vis
a vis
com você
é uma vista linda
que permeia seu umbigo.
Desse jeito, só você, aqui comigo
não nos atinge maldade...

Me mostre toda essa incontida verdade,

Deixe
entoar aberta
a palavra inserta
nessas nossas vozes caladas.
Basta ouvir a entonação certa
e nossas orlas repousam alinhavadas,

Depois,
como uma turista
perde-se e me inunda a vista
pena que seja menos vinda do que ida
em seus olhos, que são úmidas iscas
deixo-me ir e a vida nos lida.

Poesia - Ricardinho

A morte para um ateu

A morte,
Fim de tudo
Começo do nada
Fim da única coisa que temos

Tudo se acaba
tudo termina
Para sempre
eternamente
num caminho sem volta
e sem existência

não há como escapar
não há o que fazer
o fim deste tormento
só nos leva ao nada

onde não existe consciência
O único sentido final para a vida é a morte
mas para a morte não há sentido nenhum
não há sentido, não há caminho
há apenas o não e o nada,
o nada

-----------------------------------------
Poder ter

Quero poder ter o tempo que quiser
O tempo para poder ter
Apenas o tempo para querer
O tempo para não fazer nada
Para poder fazer tudo que eu puder
Poder fazer o que quiser
O que quiser com meu próprio tempo

-------------

Eu gostava de história e poesia
O mundo só me falava em lucro e desenvolvimento
Eu só falava em ócio e prazer
Só me respondiam sobre trabalho e produção

Eu queria apenas uma rede
Me exigiam responsabilidade
Eu só pensava em ficção
Eles me traziam responsabilidade

Eu só pedia um pouco de doçura
Só me entregaram o amargo
Já quis até um balão
O que me apareceu foi a velocidade

Já até acreditei em compreensão e amizade
O que existe é apenas competição
Claro que até pensei no pra sempre
Me quiseram mostrar as vantagens do curto prazo

Ainda só posso imaginar uma eterna infância
Não uma vida adulta só de descrença
Para afastar tudo de ruim
Só aquele doce sentimento que nunca se apagou

------------------------------
Àquela que vai chegar

Te imagino como recortes
Recortes de tudo que vivi
Na certeza de que você virá
a ser diferente daquilo que eu quis

Já sem te conhecer
Posso te imaginar
Embora seu retrato
Seja justamente o que perdi

A sua tão longa e injustificável ausência
Irá se explicar
Com volumosos gestos
Com que irá me agraciar

Já sinto a sua pele e o seu sentido
Roubando minhas antigas memórias
Apagando meus antigos amores
Trazendo novos universos de ilusões

Claramente te vejo
Facilmente te crio
Somente na minha ilusão

sexta-feira, 23 de março de 2007

Para começar alguns comentários sobre política. Infelizmente, neste pobre país tropical, abeçoado por deus e bonito por natureza não aprendemos a fazer Política. Desde 1500, a política nacional continua sendo a politicagem, a troca de favores, o "você me ajuda que lá na frente eu te ajudo."Demos alguns passos para a frente, é claro. Algumas instituições são mais sólidas que há 30 anos atrás, quando começávamos nossa lenta, gradual e segura abertura. A chegada do PT ao poder nos fez bem, Primeiramente perdemos a falsa esperança, que um partido redentor, detentor de toda moral e virtude, iria acabar com "tudo isso que está aí". A corrupção praticada pelo PT durante a primeira gestão Lula, não aumentou nem diminui em relação ao passado. A troca de favores, o clientelismo, o loteamento dos cargos públicos e a compra de venais deputados não começou com Lula, nem com ele terminará. A questão se aumentou ou diminuiu a corrupção, é de tal maneira subjetiva que terminariamos numa disputa de grandes escandâlos que assolaram nosso país desde que começamos a ter uma imprensa mais livre. Claro que terá que ser levado em conta as preferências político ideológicas de nossa imprensa, petista (Carta Capital), ou tucana (Veja, Estadão, O Globo... mídias de maior circulação). A compra de parlamentares, pura e simplesmente através do vil metal, parece ter começado no primeiro governo FHC. Claro, o Estadão e a Veja parecem ter esquecido das provas materiais que comprovam o pagamento de R$200.000,00 a parlamentares do norte para a aprovação da emenda da reeleição. Isso não desculpa o PT por seus erros. O partido se mostrou igual aos outros em relação à ética. Usou dos mesmos métodos que sempre combateu. Por um lado foi péssimo para o país, pois a esperança de milhões de militantes se viu jogada na vala comum das ilusões perdidas. Por outro mostrou-se que não será um partido e sim transformações institucionais que gradualmente irão tornar a corrupção e o fisiologismo menos endêmicos na política brasileira. A chegada de um dirigente sindical ao poder, trouxe pequenas mudanças. Uma maior preocupação com a base de excluídos foi uma delas. Tentativas de inclusão através de mecanismos de ação afirmativa(cotas) foram implementadas. Aumento do salário mínimo acima da inflação. Maior parcela dos impostos utiilizadas na transferência de renda. Política externa de maior amplitude, favorecendo a integração latino-americana e aumentando as exportações. O aumento da rede família favoreceu a reeleição de Lula. A falta de alternativa melhor porém foi determinante. O íunico partido de esquerda de tradição trabalhadora não encontrou um partido que construísse uma alternativa à altura. Nem à direita nem à esuqerda. O PSOL não conseguiu se mostrar uma alternativa viável. Ficou muito apregado aos velhos chavões leninistas-marxistas, e não se preocupou com os temas que uma esquerda moderna deveria abordar. O PSDB, se mostrou de uma incompetência sem limites. Escolheu um candidato fraco. Da direita mais reacionária, ligado à Opus Dei. Governador de um estado dominado pelo PCC. De um partido que criticava o PT, mas que no governo utilizou dos mesmos métodos para se manter no poder. Para 2010 se espera que a esquerda procure um grupo sério, com um projeto e maior retidão moral. Questões como o meio ambiente, direito das minorias e a urgente reformulação do Estado para atender os mais carentes e diminuir as desigualdades são as mais urgentes. Líderes que encabecem um projeto e façam uma coalizão baseada neste projeto, e não na disputa por cargos. Existem alguns políticos sérios que poderiam liderar essa esquerda moderna. Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy, Fernando Gabeira, Jefferson Péres e Chico Alencar podem ser essas pessoas. Espero não queimar a língua de novo com eles. E que 2010 seja melhor.