quinta-feira, 26 de abril de 2007

Eclipse

Um alguém sem ninguém

preso a amarras e correntes

respira como claustrofóbico

e enxerga somente o que lhe convém.

Nos milhares de ônibus lotados

Nas filas intermináveis dos bancos

Nos elevadores suspensos nas alturas

Nas pistas de dança, onde sufoca suas agruras,

invade-lhe incontinenti

um silêncio arrasador.

Pela manhã,

move-se como foguete

a amarga ambição é o seu doce ópio

e o medo de errar é sua infértil semente.

Sonha em ter alguém

E dizer a ela belas cafonices:

‘meu mel é também seu

no céu do seu peito estou eu’

porém veda seus sentimentos agudos,

por medo de ofuscar o império da razão.

E de tanto sentir que não sente o mundo

teme que o silêncio que aturde seu coração

anoiteça a graça das coisas num segundo

Um prosaico eclipse de vida.

Um comentário:

Julie disse...

Gostei... muito bom!