quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Força Maior

Se o corpo exaspera, a mente acalma
Mesmo com a garoa rasgando a vela
Se a mente nubla, quem sopra é a alma
O barco que se agarra nos braços da brisa
É cavalo sendo guiado por vazia sela
Pois sabe que vida é nossa maior poetisa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Abala

De repente ferem o peito à bala
As coisas da vida são rápidas
Infeliz de quem nem se abala

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

23 de dezembro

Ele começa a desconfiar que tenha passado da dose. O bar ao seu redor mais parece uma ilusão ou uma cena de um filme alternativo. O foco se agita, as imagens estão foscas, as pessoas não o vêem. Tudo foge de sua mente, que nada capta. Novamente agora diante do espelho do banheiro. A pia é daquelas que ficam do lado de fora do banheiro e são usadas por homens e mulheres. Visivelmente pálido e vesgo ele se vê, por instantes no reflexo do espelho. Ouve risinhos e comentários maldosos. Aliás, de repente parece que a música do local voltou a tocar em altíssimo volume. É música eletrônica, labiríntica. Ao seu lado, uma mulher sorri, como se tentasse seduzir o espelho. Joga o cabelo e dá de costas, como quem toma um fôlego para mergulhar ao fundo do mar. O mergulho é a pista lotada e nauseante. Bochecha um cepacol para tentar aplacar o hálito de vodka. Volta para o filme “Trainspotting”. Pessoas dançando sozinhas, olhando através do outro. Parecem sentir um prazer oco em chacoalharem-se como se prestes a cair. O ar condicionado lambendo sua testa provoca um certo alívio. Ficar sentado não fez bem mesmo. Ainda mais com aquela barulheira da mesa ao lado. Para cortar o “marejado”, nada melhor do que saltar ao mar e balançar junto com as ondas. Surge um copo em sua mão. É água? Não, graças a Deus (ou ao Diabo) era vodka novamente, com bastante gelo e uma sodinha. A música está boa e parece que agora vem o refrão. Mas não. Música eletrônica é assim, um eterno quase clímax. Sem palavras, só o som do metal batendo debaixo d’água. Agora dentro do táxi, toca um samba-rock engraçado. Daqueles que emanam uma deprê de fim de noite. Ou seria apenas o começo? Toca para a balada, balbucia ao taxista, que responde com a sobrancelha erguida pelo retrovisor. A cidade agora passa rápido do lado de fora. No alto de um prédio de escritório, há luzes acesas. Como alguém pode trabalhar numa noite quente dessas. É ante-véspera de Natal, cacete. Os semáforos parecem ter combinado e só ficam verdes para o táxi dele. Tudo voltou a ter foco e direção. O difícil é ouvir a conversa do taxista sobre o filho que não quer estudar e sobre o enteado que saiu do armário. Será que o cara quer um conselho vindo de um bêbado? Acho que não, pensa sozinho, enquanto bate com a cabeça no vidro da janela, meio zonzo. Uma freada brusca o acorda dum quase cochilo. A noite vai bem. São 3 e meia e amanhã tenho que trabalhar. Diz a música no táxi. O trânsito para. É a porra da árvore de Natal do Parque do Ibirapuera, que faz todo mundo andar devagar e parar para olhar, pensa com ele mesmo. Essa árvore é linda, vou trazer meus parentes para tirarem foto – diz o taxista. Ele deve gostar da árvore porque o trânsito à noite faz o táxi faturar mais. No meio do caminho, ele percebe assustado que sua carteira não está em seu bolso de trás. Apalpa todos os bolsos e custa a querer crer. Que cagada, esqueci a carteira no bar. Não sabe se interrompe a conversa do taxista agora ou se espera mais um pouco para tomar coragem de assumir publicamente seu vacilo imbecil. Perdi a carteira e estou sem grana, meu amigo, anuncia de forma quase involuntária. Puta vida e agora, como você vai me pagar, jovem? Pergunta o taxista com um ar de pai que vê um boletim do filho com notas vermelhas. Vamos para um bar de um amigo meu, lá eu arrumo a grana e te pago. Fica aqui na Humberto Primo. Chegando no bar, o taxista assusta-se com a aparência de boca de porco do local. Uma mesa de sinuca velha, fica quase na calçada. O balcão até que ostenta boas bebidas. E parece ter uma pista agitada lá no fundo. É o próprio Inferninho. Vai lá, garoto, pega a grana com seu amigo e me deixa trabalhar, OK? Ele desce do táxi se esgueirando e entra no bar. Volta em pouco tempo e fala com o taxista pela janela do carro. Já consegui liberar nossa entrada de graça e achei minha garrafa de uísque no clube do uísque. Está quase cheia, vem beber comigo, que eu ainda te arrumo umas gatinhas. O taxista acostumado a todo tipo de conversa fiada, respira fundo e diz: garoto, me dê esse seu relógio e fica tudo certo. Não posso beber em serviço... E lá se foi o relógio que tinha sido de seu avô. Mas agora na pista do Inferninho ele só quer saber de mastigar o gelo do uísque e flertar com umas garotas da faculdade.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

HAIKAI (BAR)


Mal chega no lotado bar
A moça bonita já se espanta
Todos embarcam em seu olhar

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Razão

Desprendem-se as folhas secas
Sob o olhar do pássaro:
- Por que estão destelhando minha casa?

A noite tece o dia amarelo
O camaleão observa:
- Devo usar a cor do mar ou do céu?

A chuva inunda poças no chão
A formiga se pergunta inutilmente:
- Quem é que foi me fazer assim sem asas?

O homem destrói sua mãe-natureza
Os bichos todos se entreolham:
- Será que eles acham que têm mesmo razão?

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Pen(s)ar

Pensar demais traz penar

Apesar que, de menos também

Ser espontâneo é voar

Enquanto o crítico não vem.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Piropo espanhol

Tengo ojos que miran,
Pero no brillan,
No tengo a ti en mi radar

Tengo manos que tocan,
Pero no tiemblan,
No tengo a ti para acariciar

Tengo boca que habla,
Pero no canta,
No tengo a ti para recitar

Tengo una piel que siente,
Pero no arde,
No tengo a ti a me tocar

Tengo un corazón que bate,
Pero no acelera,
No tengo a ti a me conmover

Tengo el tiempo,
Pero que es el tiempo
Si el tiempo solo es tiempo,
Cuando a ti puedo esperar

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Marina morena, não pinte esse rosto

Quem não gosta de Marina Silva? Nascida pobre, nos rincões amazônicos, analafabeta até os quinze anos,pegou malária....Se formou em História, virou senadora, ministra e é uma espécie de pop star internacional dentro do movimento ambientalista. Bom, eu não gosto. Ignorante, retrógrada, conservadora e totalmente incapaz. Que a vê no lançamento de sua campanha deve tremer de medo ao imáginá-la debatendo as decisões do COPOM com o Henrique Meirelles. Ao ser confrontada com uma elevação do juros, ela vai defender a SUSTENTABILIDADE!!!!! Marina é pós -tudo...pós-lula, pós-industrial, pós-moderna...Fez parte do governo Lula, no primeiro e em parte do segundo mandato, mesmo discordando da política ambiental do governo. Em um lance de oportunismo eleitoral, saiu do PT para se candidatar pelo PV. Diz-se que Marina está acima da política, acima das críticas, acima da esquerda e da direita....Neste último, temos um acordo. Acredito que os conceitos de esquerda e direita estão ultrapassados. Prefiro os termos conservadores e progressistas. Claramente, Marina é a candidata mais conservadora entre os três candidatos. Não apenas conservadora, obscurantista. Acha que evolucionismo e criacionismo devem ser ensinados conjuntamente. Como se fossem teorias concorrentes e com a mesma capacidade de explicação. Algém precisa avisar a ela que, além dos fósseis e de outras evidências, toda a biologia molecular desenvolvida a partir da década de 1950 mostrou que a evolução é um fato assim como é um fato que a Terra é redonda. Contrária ao aborto (para ela, as mulheres não devem ter essa escolha). Acredita que as mulheres devem seguir praticando abortos clandestinos e morrendo por clínicas Brasil afora. Acha que os gays podem se relacionar, mas não podem casar. Ou seja, são cidadãos de segunda classe, privados de direitos que outros cidadãos possuem. Ex-católica, evangélica militante, pseudo-intelectual marxista..Será que Marina chamaria o diretor de Avatar para um eventual ministério? Marina morena, vc se pintou....

quinta-feira, 20 de maio de 2010

èramuS .vA / Av. Sumaré


Sob o sol ardente que racha
raízes explodem o asfalto
Mas só João percebe perplexo
que escorre sangue de borracha
dos braços que flutuam lá no alto...
laivos de seiva sobre os automóveis convexos*

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pedaço de Lua

Primeiro, a lua fina me olha
Assim de soslaio
Agora, a senhora suprema me sorri
Como a um lacaio
Sei que a tênue película de prata
em breve, me trará o frio de maio
e me sentirei em úmida mata

Mas se ela não tem crateras,
Nem dragão ou São Jorge
Será um pedaço que se desprendeu daquela?
Parece tão tímida, minguante...
Como se não soubesse as paixões que forje
Com sua luz azul apaziguante

sexta-feira, 19 de março de 2010

Arrebentação

Nadando entre ondas fortes
desvencilhando-se de enevoadas águas
respira rápidos e sufocados sopros
quando apóia-se a uma pedra, por sorte
só consegue fazer relaxar os pesados ombros
sem querer pensar em quase nada
tenta a qualquer custo recuperar o fôlego

a linha do horizonte estende-se na superfície rasa
o sol repousa como diamante sobre a espuma
as gaivotas esbanjam volúpia, batendo asas
e enquanto luta para deixar a densa bruma
o homem fatigado crê que nada mais o arrasa

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O anoitecer dos tamborins

Em tempos vazios
sombras caminham pela cidade torta
luzes, só de alguns isqueiros frenéticos
em janelas altas e mornas
mergulhamos em sonos herméticos
embalados pela avenida-aorta

os semáforos insistem num verde sem fim
nos céus, surge um trôpego Zeppelin

as garrafas brindam involuntárias,
nas mãos da garçonete solitária

enquanto cães latem, num debate cego
a cidade, ao longe, se desmonta
como um castelo de lego.