segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Fagulhas

Protejo a fagulha que emana do coração

Entrelaço a agulha nas tramas dessa canção...

Penso ter visto o seu rosto perdido na multidão

É a cidade-deserto que me exibe outra ilusão


Vou andando pra cima e pra baixo, sempre a buscar

Aprendi, sonhos são mais reais quanto mais se sonhar


Mas não sei onde pus a cabeça quando procurei chegar aqui

E vejo que há tanto de você nas coisas deste lugar

Esqueço barreiras que saltei, ignoro os perigos que vivi

Só sei que aqui ao seu lado, não há razão para voltar...


Protejo a fagulha que emana do coração

Projeto a agulha nas tramas dessa canção

A vista do alto do morro é uma aquarela sem par

De uma cidade lá embaixo que tenta nos alcançar...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pedro miranda e o velho novo samba

Um dos artistas mais talentosos e criativos da safra de músicos brasileiros, o pandeirista e cantor Pedro Miranda lançou mais um excelente álbum: Pimenteira. Após um excelente álbum de estréia, Coisa com Coisa, o músico carioca lança um álbum que além de tradicionais raridades do samba, também traz composições de novos autores. Destaque para a bem-humorada Hello, my girl e para a música Meio-tom, que lembra, na temática, Desafinado. Pedro Miranda é pandeirista e vocalista da banda Semente que acompanha a também excelente Teresa Cristina. O grupo foi um dos principais responsáveis para a revitalização cultural e musical da Lapa, na década passada. Pedro Miranda, embora jovem, já é um veterano no cenário musical carioca. Sua voz rouca e sua maneira original de cantar traz uma mistura da malemolência dos velhos sambistas com uma sonoridade que embora nova, presta tributo ao velho samba. Pedro Miranda é samba novo, velho e bom. Bom não, ótimo. Algumas músicas do novo álbum podem ser ouvidas em http://www.myspace.com/pedrinhomiranda.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sorriso seu

Gosto dos sorrisos largos e lisos
Que as crianças inocentes exibem
Me lembram que talvez valha a pena acreditar no paraíso
Já os sorrisos curtos e precisos
Que homens sisudos têm
Me fazem lembrar da falta de graça dum cotidiano maciço

Gosto mesmo do seu alto riso
Que faz da vida coisa simples e urgente
Gargalhada que ressoa suave e revela o siso
Mas me seduz também esse seu sorriso conciso
Quase sem som, que faz apenas vibrar algo no peito
Lá dentro do por do sol de suas sensações vertentes

Esse colar de pérolas que você ostenta quando te faço uma graça casual
Reluz como o luar do interior a fazer sombra no fundo do nosso quintal

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Richard Dawkins, ou a esperança da razão

A FLIP de julho de 2009 trouxe ao Brasil, pela primeira vez, um dos maiores intelectuais vivos, provavelmente o maior. Um assombro que a imprensa nacional tenha dado tão pequena cobertura a esse cientista e escritor reverenciado nos meios acadêmicos e literários ao redor do mundo. Além de cientista respeitado, escritor prolífico, polemista e debatedor Richard Dawkins, o rotweiller de Darwin, é hoje o grande defensor da racionalidade e da ciência contra os ataques da religião e do misticismo. Desde seu primeiro livro, O Gene Egoísta, lançado em 1982, Richard Dawkins, vem se destacando como um cientista consagrado que escreve sobre temas importantes em uma linguagem acessível para o público leigo. Embora tenha vindo para ajudar a lançar seu próximo livro sobre a evolução, o debate se centrou no seu mais polêmico e famoso livro, além do mais brilhante: Deus, Um Delírio. Nesse seminal livro Dawkins ataca com toda sua erudição, verve e racionalidade a idéia de um deus sobrenatural, e todas as imposturas e misticismos que acompanham essa idéia. A idéia central do livro é que a noção de um deus, que além de ter criado o mundo ainda se preocupa com pequenas coisas mundanas, não é apenas ridícula e anti-cientifica, mas é nociva para a vida em sociedade e para o avanço da ciência.

Dawkins se notabilizou não apenas por atacar uma religião específica, mas a própria idéia de religião, ou seja, idéias e pretensas verdades baseadas na tradição, autoridade ou revelação. Para ele devemos refutar e questionar qualquer verdade absoluta da religião através da racionalidade e do questionamento crítico. O verdadeiro conhecimento se adquire através do debate, da razão e das evidências. Racional, materialista e genial faz da defesa da ciência e do debate racional suas armas e seu alvo. Dawkins, por demonstrar as fraquezas e as inconsistências das diversas religiões e o perigo que elas representam, sofre constantemente ataques de fundamentalistas, que querem trazer o debate para o campo da irracionalidade e da obscuridade onde podem gritar mais alto para seus fiéis. Dawkins continua incansável e vence, sempre, os debates, pois tem a seu lado a razão e a ponderação e não verdades reveladas por livros sagrados.

Em um momento em que o culto a “deuses” e a irracionalidade avançam, os atentados suicidas e os conflitos religiosos prosperam, Dawkins além de brilhante é imprescindível. Enquanto isso os maiores polemistas da imprensa tupiniquim (no maior país católico do mundo) são o “filósofo” Olavo de Carvalho e o inquisidor Reinaldo Azevedo, sempre prontos a defender, com fervor religioso, as indefensáveis (im)posturas da igreja católica. Para nos vacinarmos contra esses tipos de misticismos a leitura de Deus, Um Delírio, e seu convite à reflexão, já é um bom antídoto.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Zero Nove e Meio

Uns comemoram 40 anos de Woodstock, outros 40 anos desde que o homem pisou na lua
Outros choram a morte do inventor da guitarra, a musa jamais envelhecida....
No meio de todos, um menino bebe do vinho amanhecido e, tal qual um homicida, dispara sua vanguarda oca no meio da rua.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Pensamento politicamente incorreto de 6ª feira

Em São Paulo, as manifestações feitas por parte da população para protestar contra os transtornos da cidade acabam por causar mais transtornos à população e à própria cidade. Por isso, proclamemos agora o piquete contra o piquete !

sexta-feira, 19 de junho de 2009

in si

in
si
nu
antes

in
si
nu
ação

in
si
nu
ar

sábado, 6 de junho de 2009

Ao sim seja

Amem ou deixem
para seguir singrando mar adentro
amém ou dane-se
contanto que continuem sonhando
escolham com o coração
a mim, a um ou a outrem
mas verdadeiramen te
amem a si ou a mais ninguém

terça-feira, 17 de março de 2009

Woody Allen, o mais europeu dos cineastas americanos

Tomada 1: Um sujeito magro e franzino, com óculos fundo de garrafa, passeia ao lado de uma estonteante mulher destilando frases inteligentes carregadas de ironia e sarcasmo. Essa pode ser a tomada de um dos muitos filmes do mais profícuo cineasta da atualidade. De quatro em quatro anos, há uma Copa do Mundo, e de ano em ano, Woody Allen lança um fantástico filme. Nos últimos anos, o cineasta tem trocado sua amada Nova Iorque por locações na Europa. Seus últimos filmes foram locados na Inglaterra e seu último drama, Vicky Cristina Barcelona, foi filmado na capital Catalã. No entanto, está tudo lá: as auto-referências, a psicanálise, o humor sarcástico, a mistura do profundo e do mundano. Seus últimos filmes que fizeram sucesso, Match Point e Vicky Cristina Barcelona, não contam da participação do diretor como ator, ou seja, não podemos acompanhar as tiradas inteligentes de seu alter-ego atrapalhado, sedutor e suas gags que misturam comicidade e profundidade. Os seus últimos filmes marcaram um fuga do gênero que o tinha consagrado, a comédia. Dentro desse gênero, Allen transitou pelos mais diversos tipos de comédia, transformando esse gênero chamado menor em grande cinema. Inicialmente, foram as comédias, embora sem uma estória muito elaborada, juntavam diversas gags, com uma média de uma piada a cada 30 segundos. Também houveram as comédias do absurdo, cujo exemplo mais bem acabado é a obra prima Zelig. No entanto, as comédias sobre relacionamento, das quais Manhattan e Noivo Neurotico, Noiva Nervosa são os mais conhecidos, foram as que trouxeram fama e prestígio ao diretor. O diretor, que afirmou a seu biógrafo, Eric Lax, preferir drama a comédia criou um estilo próprio em seus mais de 40 filmes que, embora não tenha deixado muitos seguidores, criou um marco dentro do cinema mundial. Sua iconoclastia também é conhecida: ao estar concorrendo e ganhar o Oscar, na década de 1970, disse não poder participar da festa, pois no mesmo dia estaria tocando sua clarineta com sua banda num pequeno bar de NY. Seu próximo filme se passará na França e mal podemos esperar pela próxima obra-prima, que ao certo terminará com os já clássicos letreiros negros, um jazz muito bem escolhido ao fundo e terminando com os seguintes dizeres: WRITTEN AND DIRECTED BY WOODY ALLEN

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Próximo

Ainda continuam a torturar calouros, a espancar torcidas adversárias e a mutilar estrangeiros mundo afora. Lembro da abjeta violência gratuita desenhada como a natureza mais grotesca do homem dito civilizado, na obra "Laranja Mecânica".

Será que a diferença assusta tanto o homem, a ponto de ele ver necessidade de subjugar o próximo, para sentir-se seguro? Ou será que impor o sofrimento ao outro, o torna mais forte?

Entre a indiferença e o ódio, pavimenta-se a via da intolerância humana. Digo humana, pois não acredito que os animais, que usam da força para poder se impor no meio em que vivem, agiriam com sarcasmo ou sadismo.

Como disse, certa vez, Martin Luther King:

"Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas ainda não aprendemos a conviver como irmãos".

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Dilema sem Lema

vidas inocentes em segundos ardem
tragédia, rotina ou desgraça?
o círculo vicioso da retaliação...

o cessar fogo naquele pedaço de terra
utopia, piada ou milagre?
tentativas em eterna concretização

- Quem começou tudo isso? – pergunta-me o menino.

Os povos que matam por território
Ou o território que exclui os povos?
Dois povos ocupam o mesmo lugar no espaço
Ao mesmo tempo?

- Quem sabe um dia, você não me dá a resposta, filho?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Lama posta

Nada foi posto na mesa de café

Nem café, nem xícara

Nem pão, nem migalha

Tudo foi imposto na vida de José

Tem carnê, tem cobrança

Tem multa e tem esperança

Afeito às frases feitas, assim ele é:

“O que não me mata, me fortalece”

Continua acreditando na vida

Fica cansado, mas jamais esmorece

Perde tudo, mas não abdica da fé

Mas agora, nem mais a mesa existe...

A lama engoliu toda sua residência

Tudo é escombro, morro abaixo, nada resiste

Pá na mão, tal qual Dom Quixote da Persistência

Diz ele, prometendo aos céus,

Abraçado à sua família:

“Poremos tudo de volta ao seu lugar,

Não perdemos nada, nós somos o lar”.