terça-feira, 17 de abril de 2007

O Cheiro do ralo

Assistam "O Cheiro do Ralo". No período pós-Central do Brasil, nosso cinema nacional parecia se focar em apenas dois temas. Ou o fime apresentava uma estética nordestina/retirante/vida severina em fimes como "Eu tu Eles", "O Auto da Compadecida", que foram seguidos por inúmeros filmes como "Casa de Areia" e outros mais, ou se focava na violência urbana. Antes e depois do estrondoso sucesso de "Cidade de Deus" tiveram demasiados filmes que retratavam ou glorificavam a violência urbana, o cotidiano violento e o submundo. A criminalidade urbana foi mostrada de todos os ângulos possíveis e imagináveis: de dentro e fora da cadeia, através do bandido e através do mocinho. Os filmes nacionais passaram a repetir a mesma fórmula que tinha dado certo em alguns filmes. Além é claro, dos horripilantes filmes no formato "novela em 2 horas" com atores globais e estórias romântico-cômicas. Os filmes brasileiros se tornaram enfadonhos. Começaram a perder de longe para o cinema argentino. Os filmes argentinos tinham temáticas mais universais e exploravam diferente possibilidades. Além de serem criativos, eram também muito bem feitos. "Nove rainhas", "Plata Quemada", "Clube da Lua" entre outros fizeram o cinema argentino se tornar mais interessante que o brasileiro. Porém tudo parece começar a mudar com "O Cheiro do Ralo". Uma produção simples, barata, porém extremamente bem-feita. Elenco e atuações primorosas. Um roteiro e uma direção extremamente bem feitos. Toques de comicidade, sarcasmo, crítica social e um realismo muito bem dosados. Passa da piada mais singela para uma reflexão sobre a alma humana sem descambar para o rídiculo. A capacidade de fazer piada com a escrotidão humana. Tomadas longas e piadas inteligentes e curtas. Mas principalmente uma temática universal com toques de brasilidade. Ou seja: think global, act locally. Finalmente após um tempo um filme brasileiro que merece ser visto Não percam. Aliás, "Cartola" também merece ser visto. Não tanto pela qualidade do documentário. O filme não é um primor. Mas vale o ingresso pela vida desse genial compositor. Talento como poucos dentro da música brasileira. Cartola cantando "O Mundo é um Moinho" para seu pai já vale o ingresso.

3 comentários:

Julie disse...

Concordo em gênero, número e grau! O cinema brasileiro estava precisando de algo novo, longe dos clichês que ele mesmo criou...

Ieda disse...

Realmente, o filme é muito bom mesmo. Há tempos que não assistia a algo tão inteligente no cinema nacional e que fugisse da estética novelística-global.
Faltou mencionar aqueles filmes que abordam o regime militar brasileiro, procurando idealizar esse período, mas isso pode ser tema de um próximo post!
beijos

Cristiano disse...

É verdade. Admiro o cinema nacional, mas às vezes sinto falta de filmes que retratem algo mais universal mesmo, que promova o diálogo de nossas raízes, nossa regionalidade com grandes questões que eclodem no mundo. Algo como um tropicalismo ou um mangue-beat do cinema. O novo cinema-novo.